Ao longo de uma carreira de mais de cinquenta anos vivida em campus americanos, René Girard construiu uma obra original e poderosa que transforma nossa visão do mundo e desafia modos intelectuais e dogmas universitários. Os estudiosos da tragédia clássica ou do romance moderno, da comédia shakespeariana ou das escrituras judaico-cristãs, estão menos interessados nos textos enquanto tais, do que nas verdades que estes contêm sobre os mecanismos fundamentais da vida social. Do desejo mimético ao sacrifício dos bodes expiatórios, os conceitos forjados por Girard fazem agora parte do saber contemporâneo. Poucos pensadores foram capazes de prever, como feito por Girard, o “regresso dos religiosos” ou as ligações perigosas entre a violência e o sagrado. “No começo era o desejo: o que desejamos quando desejamos? Podemos amar alguém sem primeiro estar apaixonado pelo que tem por essa pessoa? A lei do desejo (sempre mimético), na realidade, faz dele um falsificador disfarçado de promessa de felicidade. É esse mero ideal, essa intuição maior, esse princípio de insinceridade, que René Girard descobre com a literatura em 1961, e que percorre toda sua obra, onde fala da multidão, da alienação, da literatura, do sonho, da vingança, da fé ou até mesmo da loucura.”