Há livros que não se leem — se atravessam. Méjì, de Marcelo Ricardo, é desses. Um corpo de palavras que não pede licença: dança, sangra, reza, morde e reencanta o que o mundo tentou silenciar. Aqui, a poesia não é ornamento. É rito. É gesto de quem ousa fazer da própria ferida um idioma, e da língua — essa faca e esse tambor — o instrumento de cura. Marcelo escreve com a coragem de quem sabe que cada verso pode ser também uma oferenda: sal, cebola, camarão, epô. E faz da escrita uma travessia entre dois mundos — o visível e o invisível, o profano e o sagrado, o corpo e a memória.