O Mundo Resplandecente, um complemento da obra Observações sobre a filosofia experimental, é uma utopia publicada na Inglaterra em 1666, considerada um vislumbre do que seria a ficção científica dos séculos seguintes. A intenção de Cavendish, como mencionado em seu prefácio, era expor suas considerações sobre filosofia experimental, então ela se estende na descrição dos fenômenos científicos e dos elementos da natureza, preterindo as descrições da cidade e da sociedade do novo mundo encontrado, como ocorre em muitas utopias. A autora transforma uma viagem fantástica de uma jovem – que fora raptada por um comerciante e acaba sozinha e perdida em uma terra estranha habitada por homens-animais falantes (criaturas meio humanas, meio animais) – em um desafio para a imaginação e o pensamento contemporâneos, criando um mundo utópico e paralelo, no qual faz paródia das peculiaridades culturais da Ciência de sua época, críticas à sociedade e discute teorias filosóficas de seus contemporâneos. Na trama, a autora explora um mundo alegórico e satírico acessado por um portal mágico no Polo Norte. O navio fora levado nessa direção e em pouco tempo alcançava o mar gelado, impelido por entre enormes blocos de gelo. Apenas a jovem sobreviveu, e a embarcação acabou entrando em outro mundo. A protagonista, que se torna a imperatriz desse lugar construído com ouro, de edificações nobres e imponentes, quer entender tudo a respeito do misterioso lugar e de seus habitantes, e os homens animais fazem descobertas científicas impressionantes, apesar de muitas vezes divergirem em suas respostas. Com o tempo, ela retorna para a sua terra natal, na companhia do espírito da duquesa de Newcastle, levando consigo diversos conhecimentos científicos. A obra é uma sequência de diálogos sobre filosofia natural, estado e religião, e na narrativa tudo serve para explicar conceitos e ideias através de um mundo fantasioso e/ou utópico.