A questão do entrelaçamento entre corpo e psiquismo desafia a humanidade há milênios. A máxima da citação mens sana in corpore sano tem servido como fio condutor que instiga a compreensão dessa conexão: mente sã em corpo são, sugerindo que os fenômenos que se manifestam no corpo são diretamente relacionados ao mental. O enigma dos acontecimentos psicossomáticos e sua correlação com o sofrimento psíquico têm sido objeto de estudo desde a Grécia Antiga, ressurgindo com todo o vigor na medicina do século XIX, desembocando na revolucionária psicanálise freudiana, que questionou como a clínica da histeria contrariava a lógica da anatomia médica. Esse estudo continua em constante desenvolvimento. Nessa coletânea, iremos seguir esse caminho exploratório e investigativo, resgatando os estudos precursores da psicossomática e reunindo diversos psicanalistas clínicos que se dedicam a pesquisar a clínica psicossomática contemporânea. A partir de diferentes abordagens (freudiana, lacaniana, winnicottiana), os autores exploram com sensibilidade as demandas clínicas que chegam ao consultório no século XXI. Os sujeitos e seus corpos são compostos pela materialidade biológica e anatômica, mas são também construções sociais atravessadas por práticas e discursos. À escuta dos sofrimentos psicossomáticos mais prevalentes na contemporaneidade, os autores articulam a clínica e a teoria psicanalítica, contextualizando-as nos aspectos históricos e socioculturais que atravessam o sujeito na atualidade. Esse enfoque possibilita resgatar os pioneiros dos estudos no campo da psicossomática – como Georg Groddeck, Pierre Marty, entre outros –, com uma visão atualizada que revigora essa leitura e a remete aos fenômenos que incidem na clínica psicossomática, como o amplo espectro das compulsões, os quadros de fibromialgia, os impactos da tecnologia no corpo e outros temas cruciais na clínica.